martes, 3 de marzo de 2009

Fodido e Xerocado. um fotofanzine do daigo oliva e o mateus mondini


O Fodido e Xerocado é a testemunha gráfica do que se passa na cena musical de São Paulo, os quatro olhos detrás do objectivo som propriedade do Daigo Oliva e Mateus Mondini. Com esta entrevista estamos a matar dous pássaros com umha pedra (perdoem a expressom), cobrimos a secçom de fotografia e falamos com dous sujeitos que vivem bem perto o que se passa na cena musical de São Paulo. Acreditem-me e nom hesitem em visitar os links que proponhem, eu passo horas e horas a olhar para a suas fotos. Se bem é verdade que eu nom entendo de fotografia, podo dizer que castigo os meus olhos no ecrã do computador com os seus flickrs carregados na barra de endereços do Mozilla. Som fotos fodidas mesmo.
1.Falem um bocado sobre os começos, como e por quê começou a andar o Fodido e Xerocado? Falem também um bocado dos começos no mundo do punk é favor.


Mateus - O zine foi a alternativa que encontramos para fugir um pouco da internet, e ter nossas fotos impressas... A indústria fonográfica punk brasileira não é lá essas coisas, os discos que saem as pessoas também não compram, ou seja, está tudo muito na internet.
Com o zine impresso, temos as fotos em nossas mãos, mesmo que numa qualidade meio podreira, e mesmo com uma tiragem pequena, possibilita que nossas fotos cheguem a pessoas que não são apenas do nosso círculo de amizade ou não conhecem nossos sites na internet.
No punk comecei na época da escola, tinha uma banda de meninos mais velhos que sempre tocavam e comecei a ir aos shows deles fora da escola, conhecendo bandas novas, gente nova... A fotografia foi meio que uma alternativa pra eu criar, já que com instrumentos musicais não levo muito jeito.

Daigo: O fanzine começou no final de 2006, após a turnê do Clorox Girls no Brasil. O Mateus tinha quebrado a câmera dele e eu comecei a emprestar a minha quando não fosse usar. Ficamos mais próximos e tivemos a idéia de fazer um fotozine com fotos das bandas que a gente gostasse. Eu comecei a ouvir som e ir a show mesmo em 2001, 2002, quando eu tinha 16, 17 anos.

2. Como começárom a se interessarem polo mundo da fotografia e qual é a sua formaçom como fotógrafos (aulas, cursos, aprenda você mesmo (hehe)...). À hora de tirar/fazer umha boa foto, o que é mais importante a máquina ou o ser humano?


Daigo: Nenhuma formação! Eu comecei a trabalhar com conserto de máquinas fotográficas e comecei a aprender sozinho mesmo. Sou o exemplo da fotografia do it yourself! (risos) O Mateus também sempre me ensinou muita, mas muita, coisa mesmo. Autodidatismo não significa que você tem que aprender tudo sozinho, mas procurar aprender sem a necessidade da obrigação da escola. Isso inclui você procurar alguém que saiba mais que você pra te ensinar algo.
O mais importante na hora de fazer uma boa foto é o olhar. Uma boa máquina ajuda a fazer a foto, mas não é o essencial.

Mateus - Eu fiz um curso de fotografia, numa época pré-digital, e sempre me fodia porque gastava todos os filmes que devia usar fazendo trabalhos tirando fotos de bandas.
Se você tem uma câmera manual (com controle de diafragma e obturador) o resto é com você, não importa se ela custou 100 ou 5000 euros.

3.Se pudessem escolher um futuro laboral relacionado com a fotografia, qual seria a sua escolha? Expliquem o porquê, é favor?

Daigo: Hoje em dia, eu trabalho com fotografia musical para imprensa grande. Tiro foto de um monte de bandas bostas e muitas que eu gosto também. É sempre divertido, gosto bastante mesmo quando as bandas são ruins, por que eu amo fotografar de qualquer forma. Hoje em dia é o que me satisfaz, mas adoraria trabalhar pra uma revista de turismo e sair viajando fazendo fotos de lugares não muito comuns e onde eu pudesse fazer um trabalho com um pouco mais de liberdade e não só o usual.

Mateus- Hoje em dia eu estou de férias. Em Londres trabalhava fazendo camisetas (silk screen) e de vez em nunca fazia fotos para uma revista de rock, mas no Brasil trabalhava como fotógrafo: casamentos, festas, still de produtos, arquitetura... O que pintasse eu fazia, mas agora não sei responder a essa sua pergunta... Essa idéia do Daigo me parece legal haha.

5. Imaginem que tenhem que recomendar a um cara que gosta da fotografia e quer começar a tirar fotos, que é o que deve mercar para dar os primeiros passos e nom ficar sem dinheiro na algibeira?

Mateus: Não precisa fazer cursos, pegue um amigo que saiba fotometrar e peça pra ele te ensinar, e saia por ai clicando tudo o que achar legal. Preste atenção em tudo quando é foto, não precisa comprar um livro, têm fotos boas em tudo quanto é revista... Uma hora de tanto fotografar e observar, você vai criar um "olho próprio".

Daigo: Eu gosto de livros e referências, acho importante. Dentro do punk, eu recomendo Glen E. Friedman, Ed Colver e Shawn Brackbill. Mesmo assim, também acho a proposta do Mateus válida. Se você for atento a qualquer foto, independente do formato, já é um começo.

6. "Política" é umha palavra que dá medo a muitas pessoas, que odeiam relacionar com a música, qual é a vossa opiniom, concordam com a frase "todo é política". Vocês fazem fotografia política?

Daigo: Boa pergunta, Nacho. Acho que eu o Mateus vamos discordar nas respostas... Eu acredito e muito que o DIY é a nossa expressão política, por que se não for isso, não é nada. Nosso zine é feito apenas com o nosso suor e de quem participa da cena de São Paulo, sem visar lucro e mostra que dá pra existir uma via de expressão sem precisar de apoio de empresas ou de capital grande pra acontecer. Nesse ponto, sim, eu faço fotografia política. E punk para mim precisa ter teor político, tem que falar as coisas que ninguém quer falar de um jeito que não seja babaca, não pode perder isso. Não estou dizendo que uma pessoa não pode falar sobre a namorada dele, nem de algo que seja mais pessoal, mas não dá pra uma banda só falar disso. O mundo é muito maior que um amorzinho qualquer. As pessoas têm medo da política por que não querem assumir compromissos.

Mateus- Não é que o zine não visa lucro... O zine visa o prejuízo, já que gastamos dinheiro com xerox e o distribuímos de graça.
Eu não gosto de política quando ela é relacionada a ser algo: "sou marxista, sou trotskista", reuniões para discutir a revolução que nunca vai chegar... Talvez por ter dificuldade de concentração para leitura nunca me interessei por essas coisas.
Eu passo meu tempo fotografando uma das coisas mais importantes da minha vida que é o punk, os shows onde encontro meu amigos, vejo ao vivo as bandas que escuto em casa, me divirto... Se quiser chamar isso de política, documentação, ou o que queira, pode chamar...

7. Às vezes tenho problemas para explicar a pessoas que nom estám relacionadas com o mundo do hardcore por quê fago um fanzine, organizo concertos, ajudo a pessoas que nom me ajudárom a mim e sem receber dinheiro em troca. Ajudem-me e expliquem por quê há gente que faz estas cousas desinteressadamente.
Pensam que se estám a perder determinados princípios éticos que se tenhem associado desde sempre ao hardcore e ao punk? Pensam que há sitio para as grandes multinacionais no mundo do hardcore? Entre hardcore e punk há algumha diferença importante ou é apenas musical?


Daigo: Primeiro a resposta mais fácil: Punk e hardcore são a mesma coisa! Eu até entendo que em alguma época era entendível fazer essa diferenciação para distanciar a idéia de hardcore sem ser na mesma pegada de punk esgoto, degradado, mas hoje em dia não há por que. Quem quer fazer essa diferenciação atualmente é um bando de idiotas que nem sabem de onde o hardcore veio e nunca ouviram uma música do Discharge! Quanto aos princípios éticos, isso aí é meio complicado mesmo. Não acho que exista espaço para as grandes corporações dentro do punk, mas se para alguma banda, esse é o caminho a seguir, de lançar um disco por uma gravadora grande, eu respeito. Só que esse caminho não me agrada. Se sua música, arte ou foto for boa, ela chega a qualquer lugar alguma hora, mesmo que demore mais.

Mateus- Acho q todo mundo tem dificuldade pra explicar isso, só entende quem vive o bagulho mesmo, não adianta explicar, seu pai, seu chefe, seu vizinho playboy, nunca vão entender.
O Ramones e o Sex Pistols eram de gravadoras grandes, se quiser ir mais atrás o Stooges também era, se quiser ir mais a frente o Dead Kennedys e o Inocentes também eram... E não tem como falar que eles não são punks.
Mas me encanta muito mais o Olho Seco e Ratos de Porão pela Punk Rock Discos, o Teen Idles e SOA pela Dischord, o Bastards pela Propaganda ou o Stiff Little Fingers lançando seu próprio Ep.

8. Nos festivais cinematográficos normalmente existe o "prémio à melhor fotografia", quando vem um filme analisam a fotografia do mesmo? Podem nomear alguns filmes dos que gostaram especialmente pola sua fotografia?


Daigo: Eu passei a reparar muito nisso. Gosto muito de um filme brasileiro chamado "Cinema, Aspirinas e Urubus" que tem uma fotografia bem estourada, como se fosse a luz ofuscante do sertão brasileiro e do contraste de "Cidade de Deus", totalmente fodido.
Recentemente, que eu tenha me lembrado agora, gostei muito do "Paranoid Park". Um filme muito bonito esteticamente, com imagens de skate fodidas, umas coisas feitas com 8mm e uns enquadramento legais, mas com uma história meia boca. E tem, claro, o "Babel", que é uma lição de 4 tipos diferentes de fotografia e ambientes.

Mateus- Minha namorada gosta muito do "Amelie Poulain" e depois dela muito me encher o saco, eu assisti e gostei bastante da fotografia, me passou a impressão de um cromo invertido.
Daigo – O Cidade de Deus também é um cromão invertido.


9. Qual é seu ponto de vista sobre a cena musical de São Paulo na altura? Recomendem bandas é favor! O Mateus estivo a morar em Londres e Daigo estivo de role pola Europa o passado verão, que diferenças pensam que existem entre o Brasil e os lugares que visitárom?

Daigo: A cena de São Paulo hoje em dia é fodida. Muitas bandas, muita gente querendo produzir coisas novas, lugares relativamente bons para tocar. Tem a Verdurada que é com certeza o maior festival de hardcore da América do Sul e muito mais. Eu indicaria de bandas novas o Busscops, o Velho de Câncer e o Sweet Suburbia, mas tem muito mais, com certeza. Minha viagem na Europa foi curta, mas foi muito legal. A principal diferença é a quantidade de squats que existem lá e aqui. O Mateus pode falar melhor sobre isso.
Mateus - Eu fui pra Londres pra ver mais shows, mas acho que foi um erro, vi muitas bandas que há anos sonhava, mas só as bandas velhas mesmo, tudo show grande, com público separado do palco, esquema MONEY mesmo, tem bastante gente interessada no DIY, os moleques de Guilford, o Paco, Guiles, Corn Roquet Club... Mas não sei por que as bandas novas em turnê pela Europa dificilmente iam para lá e eu gosto mais de banda nova, e acho mais interessante para o zine fotos de bandas de hoje em dia.
No Brasil temos bandas muito legais, mas nosso dinheiro é uma bosta, isso inviabiliza turnês das bandas brasileiras no exterior, e de bandas estrangeiras no Brasil.
Além das que o Daigo disse, gosto muito também do Morto Pela Escola de Vitória, Os Estudantes do Rio de Janeiro, Fornicators de Florianópolis... Em São Paulo tem muitas! B.U.S.H., O Inimigo, Sguardo Realta e a banda do Daigo, o Naifa.
Daigo: É verdade, minha banda é foda! haha

10. Os dois tenhem compartido tournê com bandas musicais, falem-nos da experiência. Com que bandas o figêrom?

Mateus - Eu organizei a turnê do Clorox Girls no Brasil, foram duas semanas de Florianópolis no sul a Salvador no nordeste, e foi demais, novos amigos, boas histórias, shows incríveis... Vim pra Europa por causa dessa turnê, um ano depois estava eu de novo com o Clorox Girls e o Feelers para 7 semanas pela Europa. Dessa vez vendi o merch e tirei fotos... Agora em algumas semanas vou fazer outra turnê pela Europa com o Press Gang da Alemanha, e não sei se terei outra ocupação que não fotógrafo... Vamos ver o que me espera.
Eu gosto muito de estar em turnê, mesmo com pouco banho, horas e horas na van com mais meia dúzia de fedidos, as amizades e lugares novos, os shows, os rangos diferentes, as casas que dormimos, tudo é sempre muito legal, mesmo se for ruim é bom!
E como eu não tenho banda, se a sua vai sair em turnê me chame para tirar fotos que eu vou!

Daigo: Eu sempre tive a sorte de estar com pessoas incríveis durante as turnês, então tudo sempre deu muito certo. Seja os americanos do Defect Defect ou qualquer banda brasileira que a gente viaje junto, mesmo com o cansaço de ficar muito tempo dentro de uma van, sempre é divertido e faz milhões de histórias novas.

11.Recomendem, para quem amamos a fotografia mas andamos um pouco perdidos, uns quantos fotógraf@s de quem gostem, assim como alguns livros de fotografia.

Mateus- O Friedman é obrigação. É o Ramones da fotografia... O meu livro preferido dele é o Fuck You Heroes. Da mesma época e lugar tem o Ed Colver... Dos novos, além do Daigo, eu gosto muito do Ick e Canderson, ambos americanos e da sueca Emma Svensson.

Daigo: Fuck You Heroes do Glen E. Friedman: se você não tem nenhum outro livro dele, compre esse primeiro! Blight at the End of the Tunnel do Edward Colver: esqueça algumas merdas mais pro final do livro, a parte punk é inalcançável de boa! Tem o Punk Love da Susie Horgan também, mas só pelas fotos clássicas do Alec Mackaye sentado na escada, os braços cruzados com X nas mãos do Teen Idles e as fotos da sorveteria. Fora isso, o livro é uma bosta.

12.Todas as pessoas com quem falei ultimamente sobre o Lula têm umha opiniom muito má sobre ele. Vocês opinam o quê? Caminha o Brasil à "ordem e o progresso"? Quais diriam qie som os maiores problemas hoje em dia para a juventude brasileira?

Daigo: Ah Nacho, a mesma coisa de sempre. Estabilidade econômica acima das reformas estruturais que o país necessita. Aí você pode incluir qualquer coisa fácil que vem na sua mente como educação e saúde e você já têm quais são os principais problemas da juventude brasileira.

Mateus: "O presidente do povo, lutava com o povo, brigava pelo povo, mas se esqueceu do povo, o presidente do povo prometeu para o povo, mentiu para o povo e já não é mais do povo" – Naifa.

13. Espaço livre e soberano, digam o q quigerem...

Daigo - Escreva para nós, peça nosso zine! Teremos o maior prazer de trocar por algo do seu país! fodidoexerocado@gmail.com ou pelo myspace: myspace.com/fodidoexerocado
Mateus- Arrume uma câmera, uma guitarra, uma tuba, recorte e cole umas porcarias, qualquer coisa... faça algo!

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