martes, 3 de marzo de 2009

Day of the Dead (foto Iago)


Portugal está a passar por um momento muito bom quanto ao hardcore. Um monte de bandas novas e algumha nom tanto estám a pôr o país vizinho no mapa, entre as segundas destacam Day of the Dead, banda com a que tivem oportunidade de passar umhas quantas horas depois do concerto que deram em Vigo na Sala Anoeta no Abrasive Shows Festival. Tanto a sua música como a conversa com eles figêrom que me decidisse a mandar umhas quantas perguntas, acho que o resultado ficou bem interessante.

1. Típica pergunta, como nasce Day of the Dead? Estavam a tocar noutras bandas na altura?

Então, os Day Of The Dead nasceram em Queluz há 7 anos atrás, na primavera de 2001. Eu já conhecia o Luís há algum tempo porque ele tocava numa banda new school chamada Shoal. Soube através de um amigo nosso que ele estava interessado em formar uma banda mais old school que tivesse também uma atitude sócio-política vincada, e que focasse assuntos importantes como o vegetarianismo/veganismo e o straight edge. Como simpatizava bastante com o Luís e como estava também interessado nessas ideias, resolvi falar com ele sobre o assunto. Um mês mais tarde começámos a ensaiar na garagem dele com o Nuno e com o João. Umas semanas depois entra o Ricardo (For The Glory e ex-Seize The Day/Time X) para a segunda guitarra e três meses depois gravámos a primeira demo e começámos a tocar.

2. Como explicariam a alguém que nunca vos ouviu qual
é a música que fazem e quais som as suas influências?

Tocamos hardcore/punk. Nada mais. Diria que aliamos a irreverência e a urgência de bandas clássicas como Minor Threat, Bad Brains e Black Flag à chama do hardcore mais positivo de bandas como Gorilla Biscuits, Uniform Choice e Chain of Strenght, sem nunca esquecer o espírito mais punk de bandas como Lärm, Los Crudos e Nations On Fire. No meio de tudo isto ainda temos tempo para criar alguns ambientes mais
pesados característicos a bandas como Unbroken, Chokehold e Morning Again.

3. Sob o meu ponto de vista as suas letras som muitos originais,
que é o q tratam de expressar com elas, qual é a mensagem que querem
lançar? A que se deve a escolha lingüística, por quê empregam o inglês?


Em termos líricos somos muito influenciados por aquilo que nos rodeia, pelo nosso dia-a-dia, pelas nossas vivências. A situação económica e política em que nos encontramos e o estado actual da nossa cena hardcore local também é uma fonte de inspiração muito recorrente. Quanto à língua, por muito que este assunto seja discutível, continuamos a achar o inglês a língua mais universal de todas. É a mais falada no globo e acaba por servir o propósito de ser o veículo mais universal para passar todas as nossas ideias e opiniões. De qualquer forma se acharmos que um dia faz mais sentido escrever em português, iremos fazê-lo sem qualquer problema.

4. Imaginem que som convidados a tocar nos seguintes eventos. Em quais estariam dispostos a tocar e em quais nom? Expliquem brevemente a resposta, é favor.

Festa de inaguraçom da Fnac em Lisboa:
Tocaríamos sem qualquer problema se nos convidassem.
Não queremos ser nenhumas rock stars, por isso temos os pés bem assentes no chão. Sabemos muito bem o que queremos.

Festa do Avante:
Diria que não. Os partidos políticos mais radicais (mesmo de esquerda) assustam-nos um pouco.

Concerto em favor da libertaçom animal:
Já tocámos vários e obviamente voltariamos a fazê-lo. Este continua a ser um tema
importantíssimo para os DOTD.

Feche de campanha do Aníbal Cavaco Silva:
Não. Não representamos qualquer partido político.

Festival patrocinado por Vans e Eastpack:
Talvez... depende de muitos outros factores. Quem organizaria, que bandas tocariam, preço do bilhete, etc...

Festa de apresentaçom do filme dos Simpson:
Obviamente que sim. O dia-a-dia dos Simpsons, enquanto típica família disfuncional moderna atrai-nos.

5. Algum de vocês levam já tempo envolvidos no hardcore, mudou o seu ponto de vista desde os começos? Como evolucionou esta musica em Portugal? Como lembram a altura em que começárom a se envolverem no mundo do hardcore?

Eu diria que as nossas ideias foram evoluindo. Os tempos são outros. As ideias base continuam cá, mas já passámos e vimos tanta coisa que estamos preparados para quase tudo. Hoje em dia é tudo mais fácil. A internet acelerou tudo: para o bem e para o mal... Ainda me lembro de tours marcadas pelo telefone e por carta, de distros em papel, de trocar k7's com outras pessoas, da paixão que senti nos meus primeiros shows...
Felizmente hoje em dia, de tempos a tempos, ainda aparecem coisas que me fazem sorrir: algumas bandas, algumas fanzines, alguns concertos. As bandas de hardcore/punk evoluíram muito em Portugal. Até meio dos anos 90 a maior parte das bandas situavam-se na zona da grande Lisboa. Hoje em dia tens bandas em pequenas cidades, de norte a sul do país. Musicalmente, e mesmo tecnicamente, as bandas também evoluíram muito. Enfim, acho que isto aconteceu um pouco por todo o lado.

6. Há pouco estivêrom de tour pola Europa e nom há muito polos EUA,
como foi a experiência? Tivêrom tempo suficiente para perceber as diferenças entre as duas cenas?


Então, a última vez que estivemos em tour pela Europa já foi em 2006, junto dos nossos amigos alemâes Just Went Black. Quantos aos EUA, estivemos lá no verão de 2005, junto aos nosso amigos Ruiner. Nós adoramos estar em tour. Conhecer cidades e pessoas novas, rever velhos amigos, tocar com bandas novas... Enfim, eu diria que na Europa as melhores experiências que temos tido têm acontecido na Alemanha. Não sei se por ser um país muito grande, se por termos uma boa base de fãs por lá. Os concertos costumam ser bem divertidos. Tocámos bons shows na tour de 2006, ao lado de boas bandas
como Good Clean Fun, Seein Red, Suicide File, To Kill ou Ritual. Nos EUA também tivemos uma experiência muito boa: tocámos com bandas como Have Heart, Celebrity Murders ou Dead Hearts, estivemos em Daytona Beach, nas Cataratas do Niagara, tocámos no ABC no Rio em Nova Iorque... Enfim, diria que aquilo que já tinha ouvido falar se comprovou um pouco.
Os miúdos norte-americanos esquecem-se que quanto é bom e importante para as bandas em tour terem uma refeição quente e uma cama para dormir depois dos shows. Na maior parte das vezes tínhamos que pedir ao pessoal que tinha ido ao show por casa para dormir, o que felizmente não acontece na Europa.

7. Neste momento há um monte de bandas a saírem em Portugal, como vem vocês a saúde da cena portuguesa na altura? Que bandas deveríamos ter em conta?

Acho que actualmente a cena local encontra-se em ascendência.
Tem havido muitos shows, algumas bandas têm qualidade e algo
para dizer, têm lançado discos e algumas têm tocado fora de Portugal... Enfim, temos boas bandas como Wise Up, Adorno, Broken Distance, For The Glory, No Good Reason ou Reaching Hand. Recomendaria estas.

8. Se tiverem um selo discográfico e tiveram a oportunidade de lançar
discos que bandas escolheriam na altura (internacionais e portuguesas)? Critérios tanto musicais como políticos?


Bandas internacionais diria Comadre, Meleeh e Trainwreck, não só pela música, como pelas ideias e pela atitude. Bandas portuguesas diria Adorno, pelo espírito punk rock, pela vontade e pelo coração grande que têm, e Wise Up e Broken Distance, pela amizade, pela qualidade e pelo feeling hardcore que têm.

9. Às vezes tenho problemas para explicar a pessoas que nom estám relacionadas com o mundo do hardcore por quê fago um fanzine, organizo concertos, ajudo a pessoas que nom me ajudárom a mim e sem receber dinheiro em troca. Ajudem-me e expliquem por quê há gente que faz estas cousas desinteressadamente.
Pensam que se estám a perder determinados princípios éticos que se tenhem associado desde sempre ao hardcore e ao punk? Pensam que há sitio para as grandes multinacionais no mundo do hardcore? Entre hardcore e punk há algumha diferença importante ou é apenas musical?


Continuamos a acreditar, conforme disseste, que hardcore/punk é mais que música. E não, não podemos dividir hardcore para um lado e punk para outro. Não faz sentido. Infelizmente diria que há muita gente hoje em dia a querer enriquecer com o meio e com este estilo de vida alternativo. Nós continuamos a acreditar no controle das nossas próprias coisas tanto quanto possível. Continuamo-nos a mover pelo espírito DIY. Montamos shows, marcamos muitas vezes as nossas próprias
tours, fazemos o nosso merch... Achamos fixe que algumas pessoas consigam viver do meio de forma alternativa, sem pisar nem enganar niguém. Não temos qualquer problema com isso. Agora, na maior parte das vezes, infelizmente, o nome "hardcore/punk" passou a ser somente mais um rótulo musical. Agora, cabe a cada pessoa dar-lhe o seu próprio valor. Para nós continua a ser um estilo de vida. Quando deixar de o ser, a banda perderá todo o sentido. Não temos a banda por obrigação.

10. Tenhem visto o documentário “American Hardcore”, o que é o
que pensam dele? Se lhes fosse encarregado o “Portugal Hardcore”
que bandas nom poderiam ficar fora?


Então, eu até gostei do documentário. Só não gostei muito da atitude "o hardcore morreu nos anos 80" que algumas pessoas demonstraram... Acho absurdo dizer-se tal coisa. Se já não acreditam, se já não gostam, tudo bem. Agora dizer-se que já não existe é simplesmente ridículo. Se fizessemos um "Portugal Hardcore" sem dúvida que teríamos que colocar bandas como X-Acto, Simbiose, Inkisição, Alcoore, Alien Squad, Human Beans, 31, New Winds, Renewal, Last Hope, Omited GR, Time X, Pointing Finger, entre outras... Incontornáveis.

11. Imaginem que tenhem que comprar umha prenda e só o podem fazer numha livraria, qual seria a sua escolha? ( 3 livros por exemplo)

Diria o "Days Of War, Nights Of Love" da Crimethink, o Contacto do Carl Sagan e qualquer livro do Albert Camus.

12. Que é o primeiro que lhes venhem à cabeças ao ler-escuitar estas palavras-ideias-conceitos:

Luis Figo: Embaixador português.
Unbroken: Os mestres.
Revolução dos Craveis: Liberdade.
Veganismo: Ética.
Mário Soares: Mediano.
Morangos com açúcar: Geração X.
Straight Edge: Escolha pessoal.
Revelation Records: Clássico.
Devil in me: Música bem tocada.
José Saramago: Pedra filosofal.
Amália Rodrigues: A voz do povo.
Ditadura Nacional: Medo.

13. Espaço livre. Digam o que quiserem.

Então, queríamos agradecer-te pela entrevista e pela amizade.
Continua a fazer aquilo em que acreditas. Mais informações
sobre os DOTD em: www.myspace.com/dotd

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